segunda-feira, 6 de abril de 2015

Seu Jorge tem razão.


Antes que digam que é na Suécia, advirto que é uma foto do show do Black Sabbath em São Paulo.
O ROCK NÃO É PARA NEGROS!
Seu Jorge.

E ele tem razão.

Apesar de que a frase retirada de sua última entrevista esteja descontextualizada, não deixa de ser verdade.

Ele foi mal interpretado mas tem razão...mesmo fora do contexto.
Vamos falar de cor da música.
O que foi Elvis Presley?
Resposta curta: uma resposta branca pra um ritmo cada vez mais em popularização. O Rock And Roll. Música de negros para negros que tornou-se quase, repito, quase universal.

A música moderna ocidental sempre teve cor. Não é o que queremos, mas estamos falando de contextos históricos...
Mas é daí?
Bom, seu Jorge disse, que o rock não chega na favela.
O problema não é o rock...
Voltemos um pouco.

Esse comentário do Seu Jorge me levou a fazer umas contas e não gostei do que encontrei. Apenas 1 em cada 20 roqueiros é negro, mesmo que seja o Jimi Hendrix. E isso lá fora, onde eventualmente brancos pobres também tocam. Aqui no BR, dado o preço dos equipamentos e mesmo o resultado musical, o roqueiro é basicamente um burguês branco que gosta de tocar música em volume alto, ficar doidão e pegar umas meninas. Isso explica o que parecia misterioso, i.é, o pensamento político atual do autor de "Rebelde sem Causa", e daquele outro Sr. que dizia que "O Rock Errou".

Agora olha pro blues! A estatística se inverte.

Acho que a questão está no sub gênero: heavy hard!

Desde Chuck Berry os negros rollavam. Inclusive o nome era uma gíria negra. O que aconteceu foi que criou-se uma indústria do hard rock pra brancos após a explosão do showbiz com Beatles que estenderam o que o produto Elvis ofereceu. Hendrix foi o elo perdido. O melhor dos dois mundos.
Se olharmos pra trás, o Rock and Roll continua negro. Seus filhos bastardos adotivos, heavy e hard, são brancos e é aí que a estatística assusta, porque ignora contexto.

O hard heavy rock nunca foi música de periferia. Nasceu pra ouvidos classificados. Pode hoje estar marginalizado como produto mais ainda é feito pra o mesmo público.

Blues no Brasil tem 99,93% de brancos e nos US está se embranquecendo desde os anos 70. Os novos destaques, notadamente desde SRV, cada vez mais são brancos.
E o contexto explica isso. Os brancos, antes mesmo de Vaughan, já se assanhavam no Blues. Quer uma prova? Clapton! Conhecido como guitarrista de blues porém boa parte de sua carreira ele foi um rocker diferentemente de Winter e Vaughan que são genuinamente blueses.

Mas tudo isso se deve ao fato de que bandas como Led Zeppelin forçaram o blues (mesmo plagiando na cara dura) a sair da sarjeta e se firmar como gênero que está cada vez mais branco nos EUA. Em outros países, não existe histórico de Blues antes de 70.

"Nos EUA os negros não escutam, não curtem e não se envolvem com o Rock. É música quase que exclusivamente de branco mesmo. Negros jovens escutam quase que exclusivamente hip hop e os mais velhos curtem smoth jazz e R&B. Acho que nos vinte anos que moro nos EUA eu nunca vi um negro sequer ouvindo ou se interessando por rock." Disse um amigo guitarrista profissional.

Voltando às estatísticas, depois de contabilizar 273 músicos das bandas de rock que mais gosto e constatar que realmente quase todos são brancos, fiquei meio chateado... Considerando a pequena quantidade de mulheres, latinos e gays, me toquei que passei a vida admirando uma forma de arte típica de macho WASP hétero, como mais de uma namorada curtidora de samba, soul ou MPB já me disse no passado. Tudo bem, o clássico também é por aí e é ótimo, mas aquela áurea de rebeldia chegou a deixar no fundo da minha mente a ideia de que rock era um troço libertário e tal. Mas na real, a liberdade de que se trata é mais pra usar drogas e fazer sexo casual. Fora a resistência à Guerra do Vietnã e alguns caras como o Lennon, a onda predominante são burgueses brancos que arrumaram uma ocupação prazerosa e esteticamente interessante, nada de revolucionário aí.

No Brasil o blues minimamente bem tocado começa em meados dos anos 80.

Os bluesmen negros aceitam os Claptons e SRVs da vida porque sabem que sem eles o gênero vai perder penetração na mídia. No fundo consideram esses caras uns white boys só se dando bem em cima de algo que "é deles". Isso já ouvi de Jr. Wells, Luke Peterson e inclusive num chat aqui no Facebook com, pasmem!, Joe Bonamassa, entre outros menos conhecidos.

Entendo como que o rock não é universal como se pensa....sempre foi música de gente branca (em termos sociais estadunidenses) pra gente branca.

É que no Brasil, as classes sociais nunca foram divididas por cor como lá
apesar de que a maioria pobre de nosso país seja negra.

Mas, coloquemos desse modo, o rock ou pelo menos esse pop rock new wave que chamamos de rock br dos anos 80 sempre foi feito por gente, jovens de famílias de classe média alta

E realmente explica algo sobre o Mr. Revanche e o Sr. Inútil e o fato de caras como Derek Green e Robert Trujillo (esse por ser latino e padecer do mesmo suplício) causarem certo espanto em suas aparições.

Lembro-me da explicação de Vernon Reid sobre o Living Colour ser composta por músicos negros. Ele disse que sabia que chamariam mais atenção como uma banda de hard rock formada integralmente por negros do que pelo talento musical que poderiam ter. E olha que o Reid toca absurdamente bem.

Talvez por ironia, quando você olha pra trás, num show de hard heavy rock, só vê gente de preto! Apesar do trocadilho, a intenção não é infame.

2 comentários:

caio barros disse...

Muito bom. Mas não é porque a música é feita por negros que é, digamos, revolucionária. O blues só fala de dor de corno. Enquanto burgueses brancos com mais cultura e leitura fizeram coisas ousadas, quiçá, revolucionárias. No Brasil 80 as letras de rock dos playboys tinham até bastante crítica social e irreverência. Mas o texto é uma ótima provocação. Realmente o rock hoje tem quase nada de pretos, gays e mulheres.

Maurício disse...

O colega aí de cima precisa escutar mais Blues e deixar de ser preconceituoso. Robert Johnson não influenciou ninguém? Aliás, Stevie Wonder deve ser branco.