Quando
voltei ao Brasil depois de morar um bom tempo fora, tentei manter alguns
hábitos adquiridos no velho mundo e um deles era o de ver o Canal de História.
Bom, aqui todos chamam de History Channel. Isso já seria o prelúdio do que eu
encontraria.
Pois bem, ao contrário do que passa na Europa, as versões desse canal possuem forte produção nacional e quase não sobra espaço para os programas enlatados Made in America. Obviamente que programas populares como Trato Feito tem seu lugar, porém, o forte é a produção histórica.
É certo que os europeus são fissurados em história já que estamos falando do berço de tudo isso e de milênios de coisas para se orgulhar (e se envergonhar).
No Brasil, imediatamente veio a decepção: o "nosso" Canal de História não passa de um amontoado de programas ruins, quase todos realities, coisas sem sentido e muita, muita coisa sobre extraterrestres.
O History hoje é um canal pago onde sua grade se divide em 1/3 do tempo fazendo propaganda de si mesmo, outro terço falando de história dos EUA de maneira bem rasa e o restante entre Trato Feito, realities e "Ovniologia" (????) ....
Possuem o
H2 onde focam mais na produção histórica, mas ainda assim, tudo focado no
público dos EUA com dublagem ruim (a dublagem por melhor que seja já é algo
negativo) e pauta sem critério claro.
Produtores
desses canais chegaram recentemente ao ponto de enganar vários importantes
historiados e pensadores brasileiros que agora, sentindo-se enganados, começam
a exigir a retirada de seus nomes de um novo programa com bastante carga
ideológica com forte objetivo manipulador e distorcido.
Porque essas coisas acontecem aqui?
Eu
sinceramente acredito que a educação, o ensino de história no Brasil é chato. É
enfadonho e pouco elaborado.
Tudo isso
cria frustração nas novas gerações que se decepcionam com esses modelos numa
licenciatura. O número de evasão dos cursos, incluindo os federais provam isso.
Os alunos entram na esperança de aprender história e acabam atolados num mar de
diretrizes educacionais burocráticas onde é mais importante aprender as normas
ABNT do que refletir sobre a sociedade colonial brasileira ou tecer críticas
sobre os rumos do tratamento à documentação da época da ditadura.
Isso faz
com que toda uma geração de historiadores seja negligenciada. O que afeta o
estímulo que a população em geral teria em conhecer e produzir história.
É
por causa dessa postura, essa falta de criar uma didática mais moderna, jovem e
atraente, que programas oportunistas com objetivo ideológico e caráter
distorcido como esse Brasil Paralelo ou essa série Guia Politicamente Incorreto
do Brasil prosperam e adquirem sucesso. Aliás, somente por ter aberto espaço
para essa série, mostra o tipo de atenção que se é dada a história nesse país.
Cada um fala o que quer sem a menor preocupação analítica. A questão é pura
ideologia.
Confesso que me desanima ver que a maioria dos historiadores desse país, incluindo professores e colegas contemporâneos, produzem pouco ou nada em suas áreas. A maioria investe fortemente em seus currículos para logo se fecharem em sala de aula e não produzirem nada além de textos de cultura geral que em nada contribuem para a produção de história ou estímulo pelo interesse da área.
Incluo-me
aí também.
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