domingo, 22 de outubro de 2017

TRATO FEITO - EU QUERO ACREDITAR






Quando voltei ao Brasil depois de morar um bom tempo fora, tentei manter alguns hábitos adquiridos no velho mundo e um deles era o de ver o Canal de História. Bom, aqui todos chamam de History Channel. Isso já seria o prelúdio do que eu encontraria.

Pois bem, ao contrário do que passa na Europa, as versões desse canal possuem forte produção nacional e quase não sobra espaço para os programas enlatados Made in America. Obviamente que programas populares como Trato Feito tem seu lugar, porém, o forte é a produção histórica.

É certo que os europeus são fissurados em história já que estamos falando do berço de tudo isso e de milênios de coisas para se orgulhar (e se envergonhar).

No Brasil, imediatamente veio a decepção: o "nosso" Canal de História não passa de um amontoado de programas ruins, quase todos realities, coisas sem sentido e muita, muita coisa sobre extraterrestres.

O History hoje é um canal pago onde sua grade se divide em 1/3 do tempo fazendo propaganda de si mesmo, outro terço falando de história dos EUA de maneira bem rasa e o restante entre Trato Feito, realities e "Ovniologia" (????) ....


Possuem o H2 onde focam mais na produção histórica, mas ainda assim, tudo focado no público dos EUA com dublagem ruim (a dublagem por melhor que seja já é algo negativo) e pauta sem critério claro.

Produtores desses canais chegaram recentemente ao ponto de enganar vários importantes historiados e pensadores brasileiros que agora, sentindo-se enganados, começam a exigir a retirada de seus nomes de um novo programa com bastante carga ideológica com forte objetivo manipulador e distorcido.

Porque essas coisas acontecem aqui?
Eu sinceramente acredito que a educação, o ensino de história no Brasil é chato. É enfadonho e pouco elaborado.
Tudo isso cria frustração nas novas gerações que se decepcionam com esses modelos numa licenciatura. O número de evasão dos cursos, incluindo os federais provam isso. Os alunos entram na esperança de aprender história e acabam atolados num mar de diretrizes educacionais burocráticas onde é mais importante aprender as normas ABNT do que refletir sobre a sociedade colonial brasileira ou tecer críticas sobre os rumos do tratamento à documentação da época da ditadura.

Isso faz com que toda uma geração de historiadores seja negligenciada. O que afeta o estímulo que a população em geral teria em conhecer e produzir história.


É por causa dessa postura, essa falta de criar uma didática mais moderna, jovem e atraente, que programas oportunistas com objetivo ideológico e caráter distorcido como esse Brasil Paralelo ou essa série Guia Politicamente Incorreto do Brasil prosperam e adquirem sucesso. Aliás, somente por ter aberto espaço para essa série, mostra o tipo de atenção que se é dada a história nesse país. Cada um fala o que quer sem a menor preocupação analítica. A questão é pura ideologia.


Confesso que me desanima ver que a maioria dos historiadores desse país, incluindo professores e colegas contemporâneos, produzem pouco ou nada em suas áreas. A maioria investe fortemente em seus currículos para logo se fecharem em sala de aula e não produzirem nada além de textos de cultura geral que em nada contribuem para a produção de história ou estímulo pelo interesse da área.

Incluo-me aí também.


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