domingo, 28 de janeiro de 2018

Professores são descartáveis. Educadores são eternos.

  
Engenheiro! Foi o que respondi ao professor ainda na quarta série quando me perguntou o que queria ser quando adulto. Você é pobre. Esqueça isso! Não é para você. Siga a profissão de seu pai. Foi sua resposta. Aliás, foi uma orientação séria.
    Minha resposta obviamente estava condicionada com o fato de meu pai ser construtor e de enxergar naqueles capacetes brancos algo admirável. Entretanto, aquela orientação dizia que minha condição de existência permitiria no máximo o capacete azul de meu pai, do qual sempre muito me orgulhei e que me trouxe até aqui. Aceitei a condição. Ele era o professor.
    No início da sétima série, já em outro colégio, nas primeiras aulas de Português, houve uma fissura na grossa membrana que envolvia minha existência nesse mundo. A frase “você pode ser o que quiser, mas para isso, é preciso conhecer a ti mesmo” tomou por um momento a função de fórceps e finalizou meu nascimento, já com 12 anos.
    Professor Mauro, filósofo e linguista de fino trato, sabia manejar o fórceps as palavras como poucos. E elas eram reveladoras. Inspiradoras. Eram chaves.
   Citando Freire, explicava como as forças dominantes tendiam a criar círculos de existência rodeados de obstáculos para que grupos dominados aceitassem suas condições e reproduzissem seus pares infinitamente. 
   Não saberia dizer se resultou positivo para todos. No meu caso, entre outras coisas me fiz engenheiro, mas já no andamento do curso, me descobri professor e a cada manhã volto àquela sala de quarta série de chão batido, numa periferia rural do início dos anos 80, para dizer para cada aluno que ele pode ser o que quiser. Até mesmo construtor se desejar.

   Tatuei no fundo da mente o mantra da frase de Rubem Alves que dá título a esse texto.


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